A revolução da Inteligência Artificial, celebrada como o próximo grande salto tecnológico, está a cobrar um preço invisível, mas severo, na infraestrutura digital global. Relatórios de mercado das últimas 48 horas confirmam um cenário que especialistas temiam: a escassez global de memória atingiu um ponto crítico. O que começou como uma disputa corporativa por chips de alto desempenho transformou-se numa crise de abastecimento que ameaça encarecer smartphones, PCs e consolas de jogos já no primeiro trimestre de 2026.
A dinâmica é brutalmente simples, mas devastadora: para alimentar os “cérebros” insaciáveis de modelos como o GPT-5 ou o Gemini, os gigantes da fabricação de semicondutores — Samsung, SK Hynix e Micron — estão a canibalizar as suas próprias linhas de produção. A prioridade absoluta tornou-se a memória High Bandwidth Memory (HBM), essencial para os servidores de IA, em detrimento da DRAM convencional usada em dispositivos de consumo.
O Efeito “Canibalização” nas Fábricas
Não se trata apenas de um aumento na procura, mas de uma reengenharia física das fábricas. Dados recentes indicam que a fabricação de chips HBM é três vezes mais intensiva em materiais e espaço de wafer do que a memória padrão. Ao converterem linhas inteiras para atender à Nvidia e à OpenAI, os fabricantes reduziram a oferta de memórias DDR5 e LPDDR5 (usadas em computadores e telemóveis) a níveis alarmantes.

Os números são claros e preocupantes. O inventário global de DRAM, que historicamente se mantinha em patamares seguros de 13 a 17 semanas, colapsou para apenas duas semanas em outubro de 2025. Este é o nível mais baixo da última década, deixando a cadeia de suprimentos sem qualquer “colchão” para absorver choques de procura.
O Consumidor Pagará a Conta em 2026
Para o utilizador final, a crise deixará de ser uma manchete de jornal para se tornar um custo real no carrinho de compras. Analistas de mercado projetam que o custo dos componentes de memória subirá entre 30% a 50% nos próximos meses. Como a memória representa até 25% do custo de produção de um dispositivo premium, o impacto no preço final é inevitável.
Fabricantes chineses de smartphones, como a Xiaomi e a Realme, já emitiram alertas aos investidores sobre reajustes de preços iminentes. No Japão, o cenário é ainda mais dramático: grandes retalhistas de eletrónicos começaram a racionar a venda de componentes de armazenamento e memória RAM para evitar o scalping (compra massiva para revenda a preços inflacionados).
Uma Crise sem Fim à Vista?
A esperança de uma resolução rápida foi dissipada por declarações recentes da liderança da SK Hynix, que confirmou que a sua produção de chips de alta performance está esgotada até ao final de 2027. Isso significa que, mesmo com investimentos bilionários em novas fábricas, a capacidade adicional só entrará online quando o mercado já estiver saturado de preços altos.
Este cenário cria um paradoxo cruel: a mesma tecnologia (IA) que promete aumentar a produtividade global está, no curto prazo, a criar um risco macroeconómico, travando a renovação de hardware nas empresas e encarecendo o acesso à tecnologia para o consumidor comum.
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Estamos diante de uma “seleção natural” tecnológica. Apenas as empresas com contratos de fornecimento de longo prazo — como a Apple e a Dell — poderão mitigar parte destes aumentos. Para o restante do mercado, a era da memória barata e abundante chegou oficialmente ao fim.
FAQ (Perguntas Frequentes)
Q: Por que a produção de chips de IA afeta o preço do meu telemóvel? A: As fábricas de chips têm capacidade limitada. Ao dedicarem as suas linhas de produção para fabricar memórias HBM (usadas em IA), deixam de produzir a memória RAM comum dos telemóveis, criando escassez e subindo os preços.
Q: Devo comprar eletrónicos agora ou esperar por 2026? A: Se precisa de atualizar o seu PC ou smartphone, os especialistas sugerem comprar agora. A tendência é que os preços subam significativamente ao longo de 2026 devido à escassez de componentes.
Q: Quando é que a situação dos preços deve normalizar? A: As previsões mais otimistas apontam para uma estabilização apenas em 2027 ou 2028, quando novas fábricas de semicondutores entrarem em operação para suprir a procura excedente.

